Os consumidores nascidos entre 1997 e 2010, a chamada Geração Z, têm sido apontados como um dos grandes responsáveis pela possível crise do setor de bebidas alcoólicas mundo afora. Isso afetaria diretamente as cervejarias de Santa Catarina, tão importantes para a economia do Estado. Mas um olhar cuidadoso para os dados mostra um cenário diferente, como analisaremos a seguir.

Como a Geração Z impacta as cervejarias de Santa Catarina:

• 58% dos brasileiros entre 18 e 34 anos consomem bebidas alcoólicas;
• entre 2013 e 2023, houve pouca variação na intensidade de consumo dos jovens;
• para eles, beber é essencialmente uma experiência social fora de casa;
• e parece estar no bolso e não no gosto o maior obstáculo ao consumo de cerveja.

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O consumo de cerveja e outras bebidas alcoólicas pela Geração Z

Um levantamento de 2025 do Instituto Datafolha revela que 49% dos brasileiros consomem bebidas alcoólicas. Contrariando o discurso popular de que os mais jovens bebem menos álcool, a pesquisa informa que o público na faixa dos 18 aos 34 anos tem, na verdade, a maior adesão a cerveja, vinho, destilados e afins.

Consumo de bebidas alcoólicas no Brasil por faixa etária:

• 18 a 34 anos: 58% consomem
• 35 a 44 anos: 55% consomem
• 45 a 59 anos: 46% consomem
• 60 anos ou mais: 35% consomem

Mesmo entre os jovens de 16 e 17 anos, que não poderiam consumir bebidas alcoólicas, um em cada quatro brasileiros nessas idades costuma ingeri-las.

Em termos de intensidade, sim, os mais novos bebem menos, como era de se esperar. De acordo com a pesquisa Vigitel Brasil 2006-2023, 21,4% dos brasileiros entre 18 e 24 anos haviam consumido várias doses de bebida alcoólica em uma única ocasião dos 30 dias anteriores. O percentual é menor do que as faixas etárias dos 25 aos 34 anos (29,8%) e dos 35 aos 44 anos (24,7%).

Porém, uma década antes disso, em 2012, o mesmo grupo de consumidores mais jovens havia registrado um índice de 21,8%. 

Se em outros países a Geração Z tem reduzido o consumo de álcool, aqui no Brasil os dados são, no mínimo, conflitantes. Não é possível assegurar, portanto, que ela represente o fim das cervejarias e de outras indústrias do gênero no País.

Quem disse que o público jovem não gosta de ver televisão?

Cervejarias são um patrimônio de Santa Catarina

As cervejarias brasileiras, é claro, estão de olho no comportamento da Geração Z e das eventuais implicações para elas. Afinal, estamos falando de um setor que produziu mais de 15 bilhões de litros de cerveja em 2024, segundo o Anuário da Cerveja 2025.

A produção cervejeira é especialmente importante para Santa Catarina, o terceiro estado com o maior número de cervejarias no Brasil em 2024. Por sinal, foi o estado que mais ganhou estabelecimentos do tipo em relação a 2023, somando 25 novas fábricas de cerveja.

Santa Catarina tem a segunda maior proporção de cervejarias por habitantes. São 32.234 catarinenses por produtora. O Estado fica atrás somente do Rio Grande do Sul e por uma margem apertada: os gaúchos registram uma cervejaria a cada 32.177 moradores.

Além disso, a indústria catarinense emplaca três cidades entre as 20 do Brasil com mais cervejarias. São elas:

• Blumenau: 18 cervejarias, na 12ª posição nacional.
• Joinville: 12 cervejarias, na 17ª posição nacional.
• Florianópolis: 11 cervejarias, na 18ª posição nacional.

Ao todo, o Brasil chegou a 1949 cervejarias em 2024. Foram 102 novos estabelecimentos em relação ao ano anterior.

A relação do consumidor brasileiro com a indústria de bebidas.

Como as cervejarias catarinenses podem se adaptar à Geração Z?

O fato de a Geração Z ainda consumir bebidas alcoólicas não significa que o consumo esteja em transformação.

Também não quer dizer que, no caso das cervejarias, a ascensão das cervejas sem álcool seja uma tendência passageira. Pelo contrário. Enquanto a produção brasileira de cerveja com álcool no Brasil caiu 4,4% em 2024, a sem álcool cresceu 536,9%.

Até mesmo em países como a Alemanha, terra da Oktoberfest, a indústria cervejeira está procurando se adaptar e trazer mais opções sem álcool ao mercado.

Mas essa ainda é uma leitura pouco abrangente do comportamento do público. O consumo de cerveja no Brasil — ou deixar de consumir — parece estar mais ligado ao fator econômico, segundo os dados do Datafolha. É sabido que os consumidores com rendas maiores bebem mais álcool. Entre 5 e 10 salários mínimos, 64% são bebedores. Enquanto isso, na faixa de renda familiar de até 2 salários mínimos, 43% dizem o mesmo de si.

Ora, os jovens estão entre os mais afetados pelo crescente custo de vida, a maior preocupação dos consumidores atualmente.

Para completar, outras indústrias estão de olho no bolso da Geração Z. A indústria fitness e a de beleza, por exemplo, não só competem pelos gastos, como podem levar os consumidores a hábitos mais distantes do álcool.

A adaptação das cervejarias catarinenses ainda passa pela maior presença em eventos, festas e bares. Isso porque 62,4% dos jovens no País preferem beber fora de casa, contra 9,2% que têm preferência pelo lar, como destaca uma pesquisa da Cheers com o Janela Bar.

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